Ciclo da pobreza

Em economia, ciclo da pobreza são mecanismos que, a menos que haja uma intervenção externa, reforçam a si mesmos e mantém uma pessoa ou um grupo de pessoas em situação de pobreza[1], persistindo ao longo de gerações. Quando aplicado para países em desenvolvimento, é conhecido como 'development trap' armadilha do desenvolvimento, em tradução livre.

Famílias presas no ciclo da pobreza tem pouco ou nenhum recurso. Portanto, essas pessoas não tem meios suficientes para escapar dessa situação, como capital financeiro, educação ou conexão com outras pessoas que possam ajudar. Indivíduos empobrecidos não tem acesso a recursos econômicos e sociais por causa de sua pobreza. Essa falta reforça a pobreza do indivíduo. Logo, essa pessoa tem a tendência de permanecer pobre ao longo de sua vida[2].

Medidores de mobilidade social são ferramentas que permitem entendem como uma população pobre se enriquece e quão frequentemente crianças são mais ricas ou tem salário mais alto que seus pais, o que ajuda a entender a intensidade do fenômeno do ciclo da pobreza.

Causas do ciclo

Fatores econômicos

O censo americano de 2012 perguntou a pessoas entre 18 e 64 anos vivendo na pobreza os motivos pelos quais elas não trabalham. Os motivos, por categoria, são[3]:

  • 31% - Doentes ou incapazes fisicamente
  • 26% - Motivos familiares
  • 21% - Escolas ou outros relacionados
  • 13% - Não conseguem arranjar emprego
  • 8% - Se aposentaram precocemente

Algumas atividades também podem custar mais para pessoas pobres do que ricas. Por exemplo, por não conseguir pagar o primeiro aluguel somado com o caução, algumas pessoas as vezes tem que viver em um hotel com uma diária mais caro. Se não conseguem pagar um apartamento com geladeira, cozinha e fogão, pessoas podem ter que gastar mais em comidas prontas do que elas gastariam se pudessem cozinhar[4].

Na caso do setor bancário, pessoas na pobreza podem não conseguir cumprir os requisitos para zerar as cobranças de manutenção do banco, ao mesmo tempo que pessoas com mais recursos financeiros ganham juros na poupança e retornos substanciais nos seus investimentos. Pessoas que já tiveram problemas com crédito no passado também podem ter dificuldades em abrir uma conta. Além disso, algumas pessoas não utilizam os serviços bancários por não confiar nas instituições financeiras, se preocupar com não conseguir fazer algum pagamento devido a um erro, não entender como funcionam os bancos ou não ter dinheiro ou avaliação de crédito suficiente para conseguir uma conta sem taxas[5].

Nos países onde não existe saúde universal gratuita, como os Estados Unidos, pessoas com poucos recursos adiam os tratamentos médicos o máximo possível. Isso pode fazer com que um problema simples se torne uma condição mais grave e que, portanto, custe mais para tratar além de fazer com que o indivíduo deixe de ganhar dinheiro pelas horas de trabalho perdidas. Trabalhadores com renda mais alta em geral possuem plano de saúde, o que evita que eles tenham custos mais altos com saúde e incentiva que eles procurem tratamentos preventivos[6]. Para além do salário mais alto e da poupança, trabalhadores com salários mais altos tem maior probabilidade de estar em um emprego que permita o tratamento do indivíduo com menor impacto no salário.

Adversidades na primeira infância

O estresse na primeira infância causado por adversidades, incluindo estresse por falta de necessidades básicas e, às vezes, abuso e negligência, são causas principais de pobreza geracional. Estudos mostraram que o trauma de abuso infantil se manifesta negativamente na vida adulta em aspectos como saúde geral e até mesmo nível de emprego[7].

Abuso e negligência são adversidades potenciais encaradas por aqueles na pobreza, mas o que é compartilhado entre todos os que estão abaixo da linha da pobreza é o estresse diário pela falta de itens básicos. "O estresse de suprir as necessidades básicas é um precedente na família e as crianças aprendem que a única forma de sobreviver é focar em ter as necessidades básicas atendidas"[8]. Todos os membros de uma casa em pobreza vivem a luta por essas necessidades e são impactados por isso. A incapacidade de pagar por cuidado infantil (como creches e babás) é outro fator que atrapalha a possibilidade de pessoas pobres conseguirem e manterem seus empregos[9].

Esses estressores não são apenas desagradáveis, eles são catastróficos para a saúde e o desenvolvimento do corpo. Exposição para estresse crônico pode induzir mudanças na arquitetura de diferentes regiões do cérebro, como a amigdala e o hipocampo, e pode impactar importantes funções do cérebro, como regular a resposta a estresse, atenção. memória, planejamento e aprendizado de novas habilidades. Além disso, pode contribuir para desregular os sistemas de resposta inflamatória, o que pode levar a um efeito crônico de desgaste nos órgãos[10]. Estresse crônico é prejudicial a saúde e danifica a memória e os órgãos, incluindo o cérebro. A memória de curto prazo é pior para crianças que cresceram em um ambiente de pobreza em relação àqueles que cresceram em um ambiente de classe média[11]. Portanto, crianças que passaram por privações de necessidades básicas na infância precisam se esforçar mais para aprender e absorver informação[11][10].

Fatores internos

Vieses

Vieses implícitos podem ser transferidos para crianças durante o processo de educação. O pensamento crítico pode evitar que isso tenha impacto nas decisões da criança na fase adulta, mas devido aos baixos índices de educação da camada mais pobre da população, esses vieses podem afetar o julgamento e as decisões das pessoas pobres com maior intensidade[12].

Tomada de decisão

Segundo estudos da Faculdade de Dartmouth[13], as tomadas de decisão são influenciadas pelas experiências de falha em situações similares. Ao invés de pensar no sucesso da decisão, as pessoas respondem considerando a pior situação possível. Aqueles que experimentaram pobreza intergeracional são mais suscetíveis a esse tipo de comportamento[14].

Baixa Produtividade

O estresse de se preocupar com as finanças pessoais pode causar baixa produtividade. Um estudo com trabalhadores de fábricas na Índia descobriu que pagar o trabalho no começo do período de trabalho aumentou a produtividade média em 6,2%.[15]

Referências

  1. Azariadis, Costas; Stachurski, John (2005). «Chapter 5 Poverty Traps». Elsevier: 295–384. ISBN 978-0-444-52041-8. Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  2. «Hutchinson Encyclopedia, Cycle of poverty». Hutchinson Encyclopedia 
  3. Weissmann, Jordan (23 de setembro de 2013). «Why the Poor Don't Work, According to the Poor». The Atlantic (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  4. Petschauer, Peter (2002). «Nickel and Dimed: On (Not) Getting by in America (review)». NWSA Journal (2): 225–227. ISSN 1527-1889. doi:10.1353/nwsa.2002.0047. Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  5. «A Place Called Jubilee». Think (em inglês). 19 de março de 2015. Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  6. Neri, Marcelo; Soares, Wagner (2002). «Desigualdade social e saúde no Brasil». Cadernos de Saúde Pública: S77–S87. ISSN 0102-311X. doi:10.1590/S0102-311X2002000700009. Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  7. Metzler, Marilyn; Merrick, Melissa T.; Klevens, Joanne; Ports, Katie A.; Ford, Derek C. (1 de janeiro de 2017). «Adverse childhood experiences and life opportunities: Shifting the narrative». Children and Youth Services Review. Economic Causes and Consequences of Child Maltreatment: 141–149. ISSN 0190-7409. PMC PMC10642285Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 37961044 Verifique |pmid= (ajuda). doi:10.1016/j.childyouth.2016.10.021. Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  8. Raupp, Andrew B. «Council Post: Using Technology To Combat Intergenerational Poverty». Forbes (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  9. [email protected], JULIE WOOTTON (24 de novembro de 2014). «Report: Two-Generation Approach is Needed to Break Poverty Cycle». The Times-News (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  10. a b Metzler, Marilyn; Merrick, Melissa T.; Klevens, Joanne; Ports, Katie A.; Ford, Derek C. (1 de janeiro de 2017). «Adverse childhood experiences and life opportunities: Shifting the narrative». Children and Youth Services Review. Economic Causes and Consequences of Child Maltreatment: 141–149. ISSN 0190-7409. PMC PMC10642285Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 37961044 Verifique |pmid= (ajuda). doi:10.1016/j.childyouth.2016.10.021. Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  11. a b «I am just a poor boy though my story's seldom told». The Economist. ISSN 0013-0613. Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  12. «How Adults Communicate Bias to Children». Greater Good (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  13. «Bias in how we learn and make decisions». ScienceDaily (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  14. «Childhood and Intergenerational Poverty: The Long-Term Consequences of Growing Up Poor – NCCP» (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2024 
  15. «How Poverty Makes Workers Less Productive : Planet Money : NPR». web.archive.org. 23 de junho de 2023. Consultado em 9 de fevereiro de 2024 


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