Lógica intuicionista

Lógica intuicionista, ou lógica construtivista, é o sistema de lógica simbólica desenvolvido por Arend Heyting para prover uma base formal para o intuicionismo de Brouwer. O sistema preserva, também, a justificação, e não apenas a verdade, no processo que leva de hipóteses a proposições derivadas - se as hipóteses são verdadeiras e justificáveis então a conclusão também será verdadeira e justificável. De um ponto de vista prático, há, também, uma forte motivação para usar a lógica intuicionista, já que ela possui a propriedade existencial, tornando-a adequada para outras formas de construtivismo matemático.

Sintaxe

A sintaxe das fórmulas da lógica intuicionista é similar à da lógica proposicional ou da lógica de primeira ordem. No entanto, os conectivos intuicionistas não são interdefiníveis da mesma maneira que na lógica clássica - sendo assim, a escolha de conectivos básicos faz diferença. Na lógica proposicional intuicionista é usual utilizar {\displaystyle \,\rightarrow } , {\displaystyle \,\land } , {\displaystyle \,\lor } , {\displaystyle \,\bot } como conectivos básicos, tratando ¬ {\displaystyle \,\neg } como a abreviatura ¬ α = ( α ) {\displaystyle \neg \alpha =(\alpha \rightarrow \bot )} . Na lógica intuicionista de primeira ordem, ambos os quantificadores {\displaystyle \,\exists } , {\displaystyle \,\forall } são necessários.

Muitas tautologias da lógica clássica não podem ser demonstradas pela lógica intuicionista. Alguns dos exemplos são a lei do terceiro excluído α ¬ α {\displaystyle \alpha \lor \neg \alpha } , também a lei de Peirce ( ( α β ) α ) α {\displaystyle ((\alpha \rightarrow \beta )\rightarrow \alpha )\rightarrow \alpha } e, até mesmo, a eliminação da dupla negação. Na lógica clássica ambos α ¬ ¬ α {\displaystyle \alpha \rightarrow \neg \neg \alpha } e ¬ ¬ α α {\displaystyle \neg \neg \alpha \rightarrow \alpha } são teoremas, mas na lógica intuicionista apenas a primeira é um teorema: a dupla negação pode ser introduzida, mas não pode ser eliminada.

A observação de que muitas tautologias válidas classicamente não são teoremas da lógica intuicionista leva à ideia de enfraquecimento na teoria de demonstrações da lógica clássica.

Cálculo à la Hilbert

A lógica intuicionista pode ser definida utilizando o seguinte sistema dedutivo à la Hilbert.

Na lógica proposicional a regra de inferência é modus ponens

  • MP: de ϕ {\displaystyle \,\phi } e ϕ ψ {\displaystyle \phi \rightarrow \psi } deriva-se ψ {\displaystyle \,\psi }

e os axiomas são

  • ENTÃO-1: ϕ ( ψ ϕ ) {\displaystyle \phi \rightarrow (\psi \rightarrow \phi )}
  • ENTÃO-2: ( ϕ ( ψ γ ) ) ( ( ϕ ψ ) ( ϕ γ ) ) {\displaystyle (\phi \rightarrow (\psi \rightarrow \gamma ))\rightarrow ((\phi \rightarrow \psi )\rightarrow (\phi \rightarrow \gamma ))}
  • E-1: ϕ ψ ϕ {\displaystyle \phi \land \psi \rightarrow \phi }
  • E-2: ϕ ψ ψ {\displaystyle \phi \land \psi \rightarrow \psi }
  • E-3: ϕ ( ψ ( ϕ ψ ) ) {\displaystyle \phi \rightarrow (\psi \rightarrow (\phi \land \psi ))}
  • OU-1: ϕ ϕ ψ {\displaystyle \phi \rightarrow \phi \lor \psi }
  • OU-2: ψ ϕ ψ {\displaystyle \psi \rightarrow \phi \lor \psi }
  • OU-3: ( ϕ ψ ) ( ( γ ψ ) ( ϕ γ ψ ) ) {\displaystyle (\phi \rightarrow \psi )\rightarrow ((\gamma \rightarrow \psi )\rightarrow (\phi \lor \gamma \rightarrow \psi ))}
  • ABSURDO: ϕ {\displaystyle \bot \rightarrow \phi }

Para fazer disto um sistema de primeira ordem, adicionamos as regras de generalização

  • GEN-∀: de ϕ ψ {\displaystyle \phi \rightarrow \psi } deriva-se ϕ ( x ψ ) {\displaystyle \phi \rightarrow (\forall x\psi )} , se x não for variável livre em ϕ {\displaystyle \,\phi }
  • GEN-∃: de ϕ ψ {\displaystyle \phi \rightarrow \psi } deriva-se ( x ϕ ) ψ {\displaystyle (\exists x\phi )\rightarrow \psi } , se x não for variável livre em ψ {\displaystyle \,\psi }

e os seguintes axiomas

  • PRED-1: ( x ϕ ( x ) ) ϕ ( t ) {\displaystyle (\forall x\phi (x))\rightarrow \phi (t)} , se t é um termo livre pra x em ϕ {\displaystyle \,\phi } , isto é, se as variáveis do termo t não se tornam quantificadas ao substituirmos x por t.
  • PRED-2: ϕ ( t ) ( x ϕ ( x ) ) {\displaystyle \phi (t)\rightarrow (\exists x\phi (x))} , com as mesmas restrições acima

Conectivos opcionais

Negação

Para incluir o conectivo ¬ {\displaystyle \,\neg } para negação, no lugar de utilizá-la como abreviatura para ϕ {\displaystyle \phi \rightarrow \bot } , é suficiente adicionar os axiomas

  • NÃO-1′: ( ϕ ) ¬ ϕ {\displaystyle (\phi \rightarrow \bot )\rightarrow \neg \phi }
  • NÃO-2′: ¬ ϕ ( ϕ ) {\displaystyle \neg \phi \rightarrow (\phi \rightarrow \bot )}

Há um grande número de alternativas para omitir o conectivo {\displaystyle \,\bot } (absurdo). Por exemplo, pode-se substituir os axiomas ABSURDO, NÃO-1′, e NÃO-2′ por

  • NÃO-1: ( ϕ ψ ) ( ( ϕ ¬ ψ ) ¬ ϕ ) {\displaystyle (\phi \rightarrow \psi )\rightarrow ((\phi \rightarrow \neg \psi )\rightarrow \neg \phi )}
  • NÃO-2: ϕ ( ¬ ϕ ψ ) {\displaystyle \phi \rightarrow (\neg \phi \rightarrow \psi )}

alternativas para o NÃO-1 são ( ϕ ¬ ψ ) ( ψ ¬ ϕ ) {\displaystyle (\phi \rightarrow \neg \psi )\rightarrow (\psi \rightarrow \neg \phi )} ou ( ϕ ¬ ϕ ) ¬ ϕ {\displaystyle (\phi \rightarrow \neg \phi )\rightarrow \neg \phi } .

Equivalência

O conectivo {\displaystyle \,\leftrightarrow } (bi-implicação) para equivalência pode ser tratado como abreviatura, com ϕ ψ {\displaystyle \phi \leftrightarrow \psi } significando ( ϕ ψ ) ( ψ ϕ ) {\displaystyle (\phi \rightarrow \psi )\land (\psi \rightarrow \phi )} . Como alternativa, pode-se adicionar os axiomas

  • SSE-1: ( ϕ ψ ) ( ϕ ψ ) {\displaystyle (\phi \leftrightarrow \psi )\rightarrow (\phi \rightarrow \psi )}
  • SSE-2: ( ϕ ψ ) ( ψ ϕ ) {\displaystyle (\phi \leftrightarrow \psi )\rightarrow (\psi \rightarrow \phi )}
  • SSE-3: ( ϕ ψ ) ( ( ψ ϕ ) ( ϕ ψ ) ) {\displaystyle (\phi \rightarrow \psi )\rightarrow ((\psi \rightarrow \phi )\rightarrow (\phi \leftrightarrow \psi ))}

SSE-1 e SSE-2 podem ser combinados, utilizando a conjunção, em um só axioma ( ϕ ψ ) ( ( ϕ ψ ) ( ψ ϕ ) ) {\displaystyle (\phi \leftrightarrow \psi )\rightarrow ((\phi \rightarrow \psi )\land (\psi \rightarrow \phi ))} .


Dedução Natural

Há um sistema de Dedução Natural que pode ser utilizado para tratar da lógica intuicionista, com a adição de uma regra, conhecida como regra do absurdo clássico, podemos utilizá-lo para a lógica clássica. Esse sistema é melhor explicado no artigo em Sistema intuitivo.


Cálculo de seqüentes

Gentzen descobriu que uma pequena restrição no seu sistema LK (seu sistema de cálculo de seqüentes para a lógica clássica) resulta em um sistema correto e completo em relação à lógica intuicionista, e denominou esse sistema LJ.


Relação com a lógica clássica

A lógica clássica pode ser obtida a partir da lógica intuicionista com a adição de um dos seguintes axiomas

  • α ¬ α {\displaystyle \alpha \lor \neg \alpha } (Lei do terceiro excluído)
  • ( α β ) ( ( ¬ α β ) β ) {\displaystyle (\alpha \rightarrow \beta )\rightarrow ((\neg \alpha \rightarrow \beta )\rightarrow \beta )} (Outra formulação para a lei do terceiro excluído)
  • ¬ ¬ α α {\displaystyle \neg \neg \alpha \rightarrow \alpha } (Eliminação da dupla negação)
  • ( ( α β ) α ) α {\displaystyle ((\alpha \rightarrow \beta )\rightarrow \alpha )\rightarrow \alpha } (Lei de Peirce)

Outro relacionamento é dado pela tradução negativa de Gödel-Gentzen, que apresenta uma forma de traduzir sentenças da lógica clássica de primeira ordem para a lógica intuicionista: uma fórmula em primeira ordem pode ser demonstrada se e somente se sua tradução Gödel-Gentzen puder ser demonstrada intuicionisticamente. Por isso, a lógica intuicionista também pode ser vista como uma forma de estender a lógica clássica com uma semântica construtivista.

Tomemos g(A) como tradução negativa de Gödel-Gentzen da fórmula clássica A, assim as fórmulas clássicas são traduzidas da seguinte forma:

  • g ( α ) {\displaystyle \,g(\alpha )} traduz-se como ¬ ¬ α {\displaystyle \neg \neg \alpha } , se α {\displaystyle \,\alpha } é um átomo ou predicado 0-ário.
  • g ( A B ) {\displaystyle g(\mathrm {A} \land \mathrm {B} )} traduz-se como g ( A ) g ( B ) {\displaystyle g(\mathrm {A} )\land g(\mathrm {B} )} .
  • g ( A B ) {\displaystyle g(\mathrm {A} \lor \mathrm {B} )} traduz-se como ¬ ( ¬ g ( A ) ¬ g ( B ) ) {\displaystyle \neg (\neg g(\mathrm {A} )\land \neg g(\mathrm {B} ))} .
  • g ( A B ) {\displaystyle g(\mathrm {A} \rightarrow \mathrm {B} )} traduz-se como g ( A ) g ( B ) {\displaystyle g(\mathrm {A} )\rightarrow g(\mathrm {B} )} .
  • g ( ¬ A ) {\displaystyle g(\neg \mathrm {A} )} traduz-se como ¬ g ( A ) {\displaystyle \neg g(\mathrm {A} )} .
  • g ( x P ( x ) ) {\displaystyle g(\forall xP(x))} traduz-se como x g ( P ( x ) ) {\displaystyle \forall xg(P(x))} .
  • g ( x P ( x ) ) {\displaystyle g(\exists xP(x))} traduz-se como ¬ x ¬ g ( P ( x ) ) {\displaystyle \neg \forall x\neg g(P(x))} .

Não-interdefinibilidade de operadores

Na lógica clássica proposicional, é possível tomar um dos conectivos: conjunção, disjunção, ou implicação como primitivo, e definir os outros dois a partir dele, em conjunto com a negação. De forma parecida, na lógica clássica de primeira ordem, pode-se definir um quantificador a partir do outro em conjunto com a negação.

Essas são consequências fundamentais da lei do terceiro excluído, que faz com que todos os conectivos sejam apenas funções booleanas. Essa lei não é preservada na lógica intuicionista, apenas a lei da não-contradição, e como resultado nenhum dos conectivos básicos podem ser dispensados e todos os axiomas são necessários, pois não há como definir um conectivo básico a partir de outro. Com isso, na maioria dos casos, apenas um dos lados das equivalências clássicas se mantêm. Os teoremas que valem intuicionisticamente são os seguintes:

Conjunção × {\displaystyle \times } disjunção:

  • ( ϕ ψ ) ¬ ( ¬ ϕ ¬ ψ ) {\displaystyle (\phi \wedge \psi )\to \neg (\neg \phi \vee \neg \psi )}
  • ( ϕ ψ ) ¬ ( ¬ ϕ ¬ ψ ) {\displaystyle (\phi \vee \psi )\to \neg (\neg \phi \wedge \neg \psi )}
  • ( ¬ ϕ ¬ ψ ) ¬ ( ϕ ψ ) {\displaystyle (\neg \phi \vee \neg \psi )\to \neg (\phi \wedge \psi )}
  • ( ¬ ϕ ¬ ψ ) ¬ ( ϕ ψ ) {\displaystyle (\neg \phi \wedge \neg \psi )\leftrightarrow \neg (\phi \vee \psi )}

Conjunçao × {\displaystyle \times } implicação

  • ( ϕ ψ ) ¬ ( ϕ ¬ ψ ) {\displaystyle (\phi \wedge \psi )\to \neg (\phi \to \neg \psi )}
  • ( ϕ ψ ) ¬ ( ϕ ¬ ψ ) {\displaystyle (\phi \to \psi )\to \neg (\phi \wedge \neg \psi )}
  • ( ϕ ¬ ψ ) ¬ ( ϕ ψ ) {\displaystyle (\phi \wedge \neg \psi )\to \neg (\phi \to \psi )}
  • ( ϕ ¬ ψ ) ¬ ( ϕ ψ ) {\displaystyle (\phi \to \neg \psi )\leftrightarrow \neg (\phi \wedge \psi )}

Disjunção × {\displaystyle \times } implicação

  • ( ϕ ψ ) ( ¬ ϕ ψ ) {\displaystyle (\phi \vee \psi )\to (\neg \phi \to \psi )}
  • ( ¬ ϕ ψ ) ( ϕ ψ ) {\displaystyle (\neg \phi \vee \psi )\to (\phi \to \psi )}
  • ¬ ( ϕ ψ ) ¬ ( ¬ ϕ ψ ) {\displaystyle \neg (\phi \to \psi )\to \neg (\neg \phi \vee \psi )}
  • ¬ ( ϕ ψ ) ¬ ( ¬ ϕ ψ ) {\displaystyle \neg (\phi \vee \psi )\leftrightarrow \neg (\neg \phi \to \psi )}

Quantificação universal × {\displaystyle \times } existencial:

  • ( x   ϕ ( x ) ) ¬ ( x   ¬ ϕ ( x ) ) {\displaystyle (\forall x\ \phi (x))\to \neg (\exists x\ \neg \phi (x))}
  • ( x   ϕ ( x ) ) ¬ ( x   ¬ ϕ ( x ) ) {\displaystyle (\exists x\ \phi (x))\to \neg (\forall x\ \neg \phi (x))}
  • ( x   ¬ ϕ ( x ) ) ¬ ( x   ϕ ( x ) ) {\displaystyle (\exists x\ \neg \phi (x))\to \neg (\forall x\ \phi (x))}
  • ( x   ¬ ϕ ( x ) ) ¬ ( x   ϕ ( x ) ) {\displaystyle (\forall x\ \neg \phi (x))\leftrightarrow \neg (\exists x\ \phi (x))}

Podemos ver, então, que uma afirmação do tipo "a ou b" é mais forte que "se a não for o caso, então b o é", enquanto elas são equivalentes na lógica clássica, e que, por outro lado, "não é o caso que a ou b" é equivalente a "nem a, nem b", assim como na lógica clássica.

Semântica

A semântica da lógica intuicionista é mais complicada que a da lógica clássica, pois ela não trabalha apenas com função sobre os valores verdadeiro e falso. Uma teoria de modelos para a lógica intuicionista pode ser dada através de álgebras de Heyting ou, equivalentemente, pela semântica de Kripke.

Semântica da álgebra de Heyting

Na lógica clássica, a fórmula deve possuir um valor de verdade, usualmente os valores são membros da álgebra booleana. Assim, nós temos o teorema que diz que a fórmula é uma tautologia na lógica clássica se para qualquer valoração de seus átomos, o valor final da fórmula for 1 (verdadeiro).

Na lógica intuicionista, não existem apenas dois valores possíveis para um átomo, e em geral o mesmo ocorre com fórmulas mais complexas. Uma das formas de dar conta disso é utilizando uma álgebra de Heyting, da qual a álgebra booleana é um caso especial. Para a lógica intuicionista, pode-se usar uma álgebra de Heyting em que os elementos são os subconjuntos abertos da linha real R {\displaystyle \mathbb {R} } para demonstrar fórmulas válidas.

Nesta álgebra, a conjunção é tratada como uma operação de interseção, a disjunção como uma operação de união e a implicação como o interior do conjunto resultante de uma operação do tipo: complemento do primeiro união com segundo ϕ ψ {\displaystyle \,\phi \rightarrow \psi } é tratado como o interior de v ( ϕ ) c v ( ψ ) {\displaystyle v(\phi )^{c}\,\cup \,v(\psi )} ). O absurdo é tratado como conjunto vazio, sendo assim, a negação de um elemento é o interior do complemento do conjunto de valoração deste elemento.

Tome como exemplo: ( ¬ ϕ ϕ ) ψ {\displaystyle (\neg \phi \land \phi )\rightarrow \psi } ; essa fórmula é válida, pois, independentemente do valor atribuído a ϕ {\displaystyle \,\phi } e a ψ {\displaystyle \,\psi } teremos a linha inteira dos reais ( v {\displaystyle \,v} representa uma valoração):

v ( ( ¬ ϕ ϕ ) ψ ) = {\displaystyle v((\neg \phi \land \phi )\rightarrow \psi )=}

= i n t ( v ( ¬ ϕ ϕ ) c v ( ψ ) ) {\displaystyle =int(v(\neg \phi \land \phi )^{c}\,\cup \,v(\psi ))}

= i n t ( ( v ( ¬ ϕ ) v ( ϕ ) ) c v ( ψ ) ) {\displaystyle =int((v(\neg \phi )\,\cap \,v(\phi ))^{c}\,\cup \,v(\psi ))}

= i n t ( ( i n t ( v ( ϕ ) c ) v ( ϕ ) ) c v ( ψ ) ) {\displaystyle =int((int(v(\phi )^{c})\,\cap \,v(\phi ))^{c}\,\cup \,v(\psi ))}

= i n t ( c v ( ψ ) ) {\displaystyle =int(\varnothing ^{c}\,\cup \,v(\psi ))} - pois, graças a um teorema topológico, sabemos que o interior do complemento é um subconjunto do complemento.

= i n t ( R v ( ψ ) ) {\displaystyle =int(\mathbb {R} \,\cup \,v(\psi ))} - pois, nessa situação, o complemento de vazio é todo o conjunto dos reais.

= i n t ( R ) {\displaystyle =int(\mathbb {R} )} - pois um conjunto unido com algum subconjunto dele tem como resultado ele mesmo.

Então, v ( ( ¬ ϕ ϕ ) ψ ) = R {\displaystyle v((\neg \phi \land \phi )\rightarrow \psi )=\mathbb {R} } - pois o interior do conjunto dos reais tem como resultado o próprio conjunto dos reais.

Também é fácil ver que a lei do terceiro excluído ( ϕ ¬ ϕ {\displaystyle \phi \lor \neg \phi } ) é inválida, pois atribuindo a ϕ {\displaystyle \,\phi } o valor { x : x > 13 } {\displaystyle \,\{x:x>13\}} , temos que o valor de ¬ ϕ {\displaystyle \neg \phi } é { x : x < 13 } {\displaystyle \,\{x:x<13\}} e a união de ambos é { x : x 13 } {\displaystyle \,\{x:x\neq 13\}} .

Semântica de Kripke

Feita com base em seu trabalho na semântica de lógicas modais, Saul Kripke criou outra semântica para a lógica intuicionista, conhecida como semântica de Kripke ou semântica relacional.[1] Ela se baseia na hipótese que também vem do intuicionismo de que o conhecimento não é destruído, apenas construído.

A aplicação dessa semântica na lógica intuicionista parece bastante com a aplicação da semântica de mundos na lógica modal.

Uma estrutura de Kripke K para a linguagem L consiste de um conjunto parcialmente ordenado de nós e uma função domínio D que recebe um nó e retorna o conjunto de átomos válidos naquele nó, de forma que se um k {\displaystyle \,k'} for posterior a k {\displaystyle \,k} então D ( k ) D ( k ) {\displaystyle D(k)\subseteq D(k')} . Considere também uma função f, associada a cada nó k {\displaystyle \,k} , que recebe predicados 0-ários e retorna o valor de verdade do predicado, naquele nó - f ( P , k ) = v e r d a d e {\displaystyle \,f(P,k)=verdade} , no caso de o predicado ser verdadeiro naquele nó, e f ( P , k ) = d e s c o n h e c i d o {\displaystyle \,f(P,k)=desconhecido} , no caso de o predicado não ser verdadeiro naquele nó - e uma função T no formato T ( Q , k ) {\displaystyle \,T(Q,k)} , associada, também, a cada nó k {\displaystyle \,k} , que recebe predicados (n+1)-ários Q, com n N {\displaystyle n\in \mathbb {N} } , tal que ela retorna o conjunto de (n+1)-tuplas de elementos do domínio D ( k ) {\displaystyle \,D(k)} se essa tupla pertencer a relação Q. A função f se propaga de forma que se k {\displaystyle \,k'} for posterior a k {\displaystyle \,k} então se f ( P , k ) = v e r d a d e {\displaystyle \,f(P,k)=verdade} , f ( P , k ) = v e r d a d e {\displaystyle \,f(P,k')=verdade} e a função T se propaga de forma que se k {\displaystyle \,k'} for posterior a k {\displaystyle \,k} então T ( Q , k ) T ( Q , k ) {\displaystyle \,T(Q,k)\subseteq T(Q,k')} .

As seguintes regras são definidas:

  • k P {\displaystyle k\vDash P} , para o caso de α {\displaystyle \,\alpha } ser um predicado 0-ário, sse f ( P , k ) = v e r d a d e {\displaystyle \,f(P,k)=verdade} .
  • k Q ( a 0 , a 1 , a 2 , . . . a n ) {\displaystyle k\vDash Q(a0,a1,a2,...an)} , para o caso de Q ser um predicado (n+1)-ário, sse ( a 0 , a 1 , a 2 , . . . , a n ) T ( Q , k ) {\displaystyle \,(a0,a1,a2,...,an)\in T(Q,k)} .
  • k ( A B ) {\displaystyle k\vDash (\mathrm {A} \land \mathrm {B} )} , se k A {\displaystyle k\vDash \mathrm {A} } e k B {\displaystyle k\vDash \mathrm {B} } .
  • k ( A B ) {\displaystyle k\vDash (\mathrm {A} \lor \mathrm {B} )} , se k A {\displaystyle k\vDash \mathrm {A} } ou k B {\displaystyle k\vDash \mathrm {B} } .
  • k ( A B ) {\displaystyle k\vDash (\mathrm {A} \rightarrow \mathrm {B} )} , para todo k {\displaystyle \,k'} posterior a k {\displaystyle \,k} , se k A {\displaystyle k'\vDash \mathrm {A} } então k B {\displaystyle k'\vDash \mathrm {B} } .
  • k ( ¬ A ) {\displaystyle k\vDash (\neg \mathrm {A} )} se, para nenhum k {\displaystyle \,k'} posterior a k {\displaystyle \,k} , k A {\displaystyle k'\vDash \mathrm {A} } .
  • k ( x ( A ( x ) ) ) {\displaystyle k\vDash (\forall x(\mathrm {A} (x)))} se, para todo k {\displaystyle \,k'} posterior a k {\displaystyle \,k} e todo d D ( k ) {\displaystyle d\in D(k')} , k ( A ( d ) ) {\displaystyle k'\vDash (A(d))} é o caso.
  • k ( x ( A ( x ) ) ) {\displaystyle k\vDash (\exists x(\mathrm {A} (x)))} se existe algum d {\displaystyle \,d} tal que d D ( k ) {\displaystyle d\in D(k)} e k A ( d ) {\displaystyle k\vDash \mathrm {A} (d)} .


Também vale ressaltar que:

  • Não é possível k ( A ¬ A ) {\displaystyle k\vDash (\mathrm {A} \land \neg \mathrm {A} )} para qualquer sentença A {\displaystyle \,\mathrm {A} } e qualquer nó k {\displaystyle \,k} .
  • Se um nó k {\displaystyle \,k'} é posterior a um nó k {\displaystyle \,k} então se k A {\displaystyle k\vDash \mathrm {A} } então k A {\displaystyle k'\vDash \mathrm {A} } para qualquer sentença A {\displaystyle \,\mathrm {A} } .
  • Uma sentença A {\displaystyle \,\mathrm {A} } só pode ser uma tautologia se, para todo k {\displaystyle \,k} em todas as estruturas Kripke possíveis, k A {\displaystyle k\vDash \mathrm {A} } .


Exemplo

Veremos se ( ¬ ϕ ϕ ) ψ {\displaystyle \vDash (\neg \phi \land \phi )\rightarrow \psi } é uma tautologia na lógica intuicionista.

Por definição, temos que em todos as estruturas K (1) k ( ¬ ϕ ϕ ) ψ {\displaystyle k\vDash (\neg \phi \land \phi )\rightarrow \psi } para todo k K {\displaystyle k\in K} . Pela definição de {\displaystyle \rightarrow } e (1), temos que (2) se k ( ¬ ϕ ϕ ) {\displaystyle k'\vDash (\neg \phi \land \phi )} então (3) k ψ {\displaystyle k'\vDash \psi } , para todo k {\displaystyle \,k'} posterior a k {\displaystyle \,k} . De (2), por definição, temos que k ( ¬ ϕ ϕ ) {\displaystyle k'\nvDash (\neg \phi \land \phi )} para qualquer k {\displaystyle \,k'} . Logo, ( ¬ ϕ ϕ ) ψ {\displaystyle \vDash (\neg \phi \land \phi )\rightarrow \psi } é uma tautologia na lógica intuicionista.


Propriedade existencial

Na lógica intuicionista, uma fórmula do tipo x A ( x ) {\displaystyle \exists x\,A(x)} só é demonstrável se for possível mostrar esse x. Outra coisa que deve-se notar é que, nessa lógica, fórmulas como α β {\displaystyle \alpha \land \beta } são tautologias apenas se α {\displaystyle \,\alpha } e β {\displaystyle \,\beta } forem tautologias, assim como α β {\displaystyle \alpha \lor \beta } apenas é tautologia se α {\displaystyle \,\alpha } ou β {\displaystyle \,\beta } for tautologia. Na lógica clássica é fácil de perceber que isso não se aplica utilizando a lei do terceiro excluído: α ¬ α {\displaystyle \alpha \lor \neg \alpha } , pois não é verdade, em geral, que α {\displaystyle \,\alpha } seja uma tautologia, ou que ¬ α {\displaystyle \neg \alpha } o seja. Essa propriedade é chamada de propriedade existencial/disjuntiva.

Relação com outras lógicas

A lógica intuicionista é um tipo de lógica paracompleta, dual às lógicas paraconsistentes.


Ver também

Notas

  1. Intuitionistic Logic. Written by Joan Moschovakis. Published in Stanford Encyclopedia of Philosophy.

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