Lei de Bragg

Física geral
B = 0 {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {B} =0}

× E = B t {\displaystyle \nabla \times \mathbf {E} =-{\frac {\partial \mathbf {B} }{\partial t}}}

E = ρ {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {E} =\rho }

× B = E t + J {\displaystyle \nabla \times \mathbf {B} ={\frac {\partial \mathbf {E} }{\partial t}}+\mathbf {J} }
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Em física do estado sólido, a Lei de Bragg está relacionada ao espalhamento de ondas que incidem em um cristal e fornece uma explicação para os efeitos difrativos observados nesta interação. Estes padrões são explicados relacionando os vetores de onda do feixe incidente e espalhado em uma rede cristalina para o caso de seu espalhamento elástico com os átomos do material.

No caso de ondas de raios X, ao atingirem um átomo, o campo elétrico da radiação provoca uma força na nuvem eletrônica acelerando as cargas livres do material (elétrons). O movimento dessas cargas re-irradia ondas que têm aproximadamente a mesma frequência, uma vez que o espalhamento não é totalmente elástico, podendo haver interações de criação e aniquilação de fônons, porém em uma escala de energia muito menor. Nesse modelo, as frequências da radiação incidente e espalhada são consideradas idênticas. As ondas emergentes interferem entre si construtiva e destrutivamente, gerando padrões de difração no espaço que podem ser medidos em um filme ou detector. O padrão de difração resultante é a base da análise difrativa, chamada difração de Bragg.

História

Representação esquemática da estrutura cristalina do cloreto de sódio.

A difração de Bragg (também chamada de formulação de Bragg da difração de raios X) foi proposta originalmente por William Lawrence Bragg e William Henry Bragg em 1913, em resposta à descoberta de que sólidos cristalinos produziam padrões intrigantes de reflexão de raios x (ao contrário, por exemplo, de um líquido). Eles descobriram que esses cristais, para alguns comprimentos de onda e ângulos de incidência específicos, produziam intensos picos de radiação refletida (conhecidos como picos de Bragg). O conceito de difração de Bragg se aplica igualmente a processos de difração de nêutrons e de elétrons[1]. Tanto os nêutrons quanto os raios X possuem comprimento de onda compatível com as distâncias interatômicas - da ordem de 150 pm - e, portanto, constituem uma excelente ferramenta para se explorar dimensões com essa ordem de grandeza.

W.L. Bragg explicou esse resultado empírico modelando o cristal como um conjunto de planos discretos, paralelos e separados por uma distância constante d, propondo que a radiação incidente produziria um pico de Bragg se as reflexões especulares de vários planos interferissem construtivamente, ou seja, se a diferença de fase entre as frentes de onda refletidas por planos consecutivos fosse de 2 π {\displaystyle 2\pi } radianos.

A lei de Bragg foi derivada pelo físico Sir William Lawrence Bragg.[2] em 1912 e apresentada pela primeira vez em 11 de novembro desse mesmo ano à Sociedade Filosófica de Cambridge. Embora simples, a lei de Bragg confirmou a existência de partículas reais na escala atômica, e forneceu uma nova e poderosa ferramenta para o estudo de cristais utilizando difração de raios X e nêutrons. William Lawrence Bragg e seu pai, Sir William Henry Bragg, foram laureados com o Prêmio Nobel de física em 1915 por seu trabalho em determinar estruturas cristalinas, a começar pelo cloreto de sódio, o sulfeto de zinco e o diamante. Eles são a única equipe formada por pai e filho a ganhar o prêmio conjuntamente. W.L. Bragg tinha 25 anos de idade, o que faz dele o mais jovem laureado pela Academia Real das Ciências da Suécia.

Condição de Bragg

Modelo de Bragg em duas dimensões
Modelo de Bragg em duas dimensões: A diferença de caminho óptico entre os dois raios é 2 d sin θ {\displaystyle 2d\sin \theta } , onde d {\displaystyle d} é a distância entre os planos considerados e θ {\displaystyle \theta } , o ângulo de incidência.

A periodicidade do cristal faz com que haja planos de átomos separados por uma distância fixa nas diferentes direções do espaço. A difração de Bragg ocorre quando a radiação eletromagnética ou ondas de matéria de comprimento de onda comparável à distância entre dois planos de átomos é refletida especularmente por planos consecutivos.

Nota-se que partículas em movimento, incluindo elétrons, prótons e nêutrons têm um comprimento de onda associado de de Broglie dado por:

λ = h p {\displaystyle \lambda ={\frac {h}{p}}} .

Nessa expressão, p {\displaystyle p} é o momento linear da partícula.

A próxima equação é conhecida como Lei de Bragg. Para que haja uma diferença de fase entre dois raios igual a 2 π {\displaystyle 2\pi } radianos, é necessária a condição

2 d sin θ = n λ , {\displaystyle 2d\sin \theta =n\lambda \;,\;\!}

onde n {\displaystyle n} é um número natural não nulo, λ {\displaystyle \lambda } é o comprimento de onda da radiação incidente, d {\displaystyle d} é a distância entre planos atômicos e θ {\displaystyle \theta } é o ângulo de incidência em relação ao plano considerado. Dessa maneira, existe uma dependência entre o ângulo de incidência e a intensidade da onda refletida. Como cada plano reflete de 10 3 {\displaystyle 10^{-3}} a 10 5 {\displaystyle 10^{-5}} do total da radiação incidente, há de 10 3 {\displaystyle 10^{3}} a 10 5 {\displaystyle 10^{5}} planos contribuindo para a reflexão total. Se os raios refletidos estão fora de fase, a soma das muitas contribuições (reflexões por planos diferentes) tenderá a zero, de maneira que podem ser observados picos localizados nos ângulos em que a condição de Bragg é satisfeita[3].

Densidade eletrônica

Análise de Fourier

Para melhor compreender o comportamento da onda espalhada, pode ser tomado como modelo um cristal perfeito, formado por uma célula primitiva que se repete no espaço. A descrição matemática do cristal é invariante sob uma translação espacial:

T = u 1 a 1 + u 2 a 2 + u 3 a 3 {\displaystyle {\vec {T}}=u_{1}{\vec {a}}_{1}+u_{2}{\vec {a}}_{2}+u_{3}{\vec {a}}_{3}} .

Nessa expressão os u i {\displaystyle u_{i}} são números inteiros e os vetores a i {\displaystyle {\vec {a}}_{i}} são os vetores associados aos eixos do cristal, cujas magnitudes a i {\displaystyle a_{i}} são as distâncias entre sítios (pontuais) da rede nas direções a ^ i {\displaystyle {\hat {a}}_{i}} . Todas as propriedades locais do cristal, como densidade de momento magnético, concentração de carga ou densidade eletrônica, serão invariantes sob uma translação da forma T {\displaystyle {\vec {T}}} para qualquer combinação de u i {\displaystyle u_{i}} [4]

F ( r + T ) = F ( r ) {\displaystyle F({\vec {r}}+{\vec {T}})=F({\vec {r}})} .

Essa periodicidade permite que se faça uma expansão da densidade eletrônica n ( r ) {\displaystyle n({\vec {r}})} em série de Fourier. Considerando primeiro apenas uma componente dimensional, vem:

n ( x ) = p > 0 [ C p cos 2 π p x a 1 + S p sin 2 π p x a 1 ] {\displaystyle n(x)=\sum _{p>0}^{}[C_{p}\cos {\frac {2\pi px}{a_{1}}}+S_{p}\sin {\frac {2\pi px}{a_{1}}}]} .

Nessa expressão C p {\displaystyle C_{p}} e S p {\displaystyle S_{p}} são constantes reais e a 1 = | a 1 | {\displaystyle a_{1}=|{\vec {a}}_{1}|} . É imediato que

n ( x + a 1 ) = n ( x ) {\displaystyle n(x+a_{1})=n(x)\;\!} .

Um ponto 2 π p a 1 {\displaystyle {\frac {2\pi p}{a_{1}}}} é um ponto no chamado espaço recíproco do cristal. Os coeficientes da expansão serão tais que apenas os termos que condizem com a periodicidade do cristal no espaço real (das posições) poderão ser diferentes de zero.

É conveniente escrever a soma como uma exponencial complexa através da relação de Euler:

e i x = cos x + i sin x {\displaystyle e^{ix}=\cos x+i\sin x\;\!}

Com essa notação, a expansão pode ser escrita como

n ( x ) = p = [ n p e i 2 π p x a 1 ] {\displaystyle n(x)=\sum _{p=-\infty }^{\infty }[n_{p}e^{\frac {i2\pi px}{a_{1}}}]} .

Nessa expressão o somatório percorre todos os valores inteiros de p. O termo n p {\displaystyle n_{p}} agora é, em geral, um número complexo e, portanto, é necessário impor uma condição que faça com que n ( x ) {\displaystyle n(x)} seja uma função real como originalmente. A condição

n p = n p {\displaystyle n_{p}=n^{*}\!_{-p}}

faz com que

[ n p e i 2 π p x a 1 + n p e i 2 π p x a 1 ] = 2 R e [ n p ] cos i 2 π p x a 1 2 I m [ n p ] sin i 2 π p x a 1 {\displaystyle [n_{p}e^{\frac {i2\pi px}{a_{1}}}+n_{-p}e^{\frac {-i2\pi px}{a_{1}}}]=2Re[n_{p}]\cos {\frac {i2\pi px}{a_{1}}}-2Im[n_{p}]\sin {\frac {i2\pi px}{a_{1}}}} ,

que é uma função real.

Estender o argumento para três dimensões é algo direto:

n ( r ) = G n p e G r {\displaystyle n({\vec {r}})=\sum _{G}^{}n_{p}e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {r}}}} .

O somatório triplo foi omitido para preservar a clareza da expressão, mas é importante lembrar que a soma é realizada sobre todos as combinações possíveis de v 1 , v 2 , v 3 {\displaystyle v_{1},v_{2},v_{3}\;\!} (definido na próxima subseção). Assim, é necessário encontrar um conjunto de vetores G {\displaystyle {\vec {G}}} que satisfaçam a relação de invariância por translação T {\displaystyle {\vec {T}}} .

Tendo a expressão para a expansão de Fourier para densidade eletrônica, é possível obter os coeficientes da expansão em uma dimensão por meio de

n p = a 1 1 0 a 1 n ( x ) e i 2 π p x a 1 d x {\displaystyle n_{p}=a_{1}^{-1}\int _{0}^{a_{1}}n(x)e^{\frac {-i2\pi px}{a_{1}}}\,dx} .

Substituindo a expressão expandida para n ( x ) {\displaystyle n(x)} na integral acima, vem:

n p = a 1 1 p n p 0 a 1 e i 2 π ( p p ) x a 1 d x {\displaystyle n_{p}=a_{1}^{-1}\sum _{p'}^{}n_{p'}\int _{0}^{a_{1}}e^{\frac {i2\pi (p-p')x}{a_{1}}}\,dx} .

O caso p p {\displaystyle p\neq p'} faz com que o valor da integral seja

a 1 i 2 π ( p p ) ( e i 2 π ( p p ) 1 ) = 0 {\displaystyle {\frac {a_{1}}{i2\pi (p'-p)}}(e^{i2\pi (p'-p)}-1)=0} ,

pois p p {\displaystyle p'-p} é um inteiro e e i 2 π ( i n t e i r o ) = 1 {\displaystyle e^{i2\pi (inteiro)}=1} . No caso p = p {\displaystyle p'=p} , e 0 = 1 {\displaystyle e^{0}=1} , de maneira que o valor da integral é a 1 {\displaystyle a_{1}} e n p = a 1 n p a 1 = n p {\displaystyle n_{p}={\frac {a_{1}n_{p}}{a_{1}}}=n_{p}} . De maneira semelhante, pode ser invertido o caso tridimensional, obtendo

n G = V c 1 n ( r ) e ( i G r ) d V {\displaystyle n_{G}=V_{c}^{-1}\int _{}^{}\int _{}^{}\int _{}^{}n({\vec {r}})e^{(-i{\vec {G}}\cdot {\vec {r}})}dV} .

Nesse caso a integração é realizada sobre uma célula primitiva e V c {\displaystyle V_{c}} é o volume da mesma.

Rede recíproca

Podemos construir, a partir dos vetores da base a 1 , a 2 , a 2 {\displaystyle {\vec {a}}_{1},{\vec {a}}_{2},{\vec {a}}_{2}} , a base da rede recíproca[5]

b 1 = 2 π a 2 × a 3 a 1 a 2 × a 3 {\displaystyle {\vec {b}}_{1}=2\pi {\frac {a_{2}\times a_{3}}{a_{1}\cdot a_{2}\times a_{3}}}}

b 2 = 2 π a 3 × a 1 a 1 a 2 × a 3 {\displaystyle {\vec {b}}_{2}=2\pi {\frac {a_{3}\times a_{1}}{a_{1}\cdot a_{2}\times a_{3}}}}

b 3 = 2 π a 1 × a 2 a 1 a 2 × a 3 {\displaystyle {\vec {b}}_{3}=2\pi {\frac {a_{1}\times a_{2}}{a_{1}\cdot a_{2}\times a_{3}}}}

ou de forma condensada, utilizando o tensor ou símbolo de Levi-Civita,

b i = 2 π a j × a k | a i a j × a k | ε i j k . {\displaystyle {\vec {b}}_{i}=2\pi {\frac {a_{j}\times a_{k}}{|a_{i}\cdot a_{j}\times a_{k}|}}\varepsilon _{ijk}.}

Por análise vetorial simples temos

b i a j = 2 π δ i j , {\displaystyle {\vec {b}}_{i}\cdot {\vec {a}}_{j}=2\pi \delta _{ij},}

onde δ i j {\displaystyle \delta _{ij}} é o delta de Kronecker.

Definimos G {\displaystyle {\vec {G}}} como sendo um vetor da forma

G = v 1 b 1 + v 2 b 2 + v 3 b 3 {\displaystyle {\vec {G}}=v_{1}{\vec {b}}_{1}+v_{2}{\vec {b}}_{2}+v_{3}{\vec {b}}_{3}} ,

onde os v i {\displaystyle v_{i}\;\!} são números inteiros e os b i {\displaystyle {\vec {b}}_{i}} são a base da rede recíproca. Estamos agora em condições de descrever a periodicidade de n ( r ) {\displaystyle n({\vec {r}})} combinando a definição de G {\displaystyle {\vec {G}}} e a expansão em coeficientes de Fourier de n ( r ) {\displaystyle n({\vec {r}})} :

n ( r ) = G n p e G r {\displaystyle n({\vec {r}})=\sum _{\vec {G}}^{}n_{p}e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {r}}}}

n ( r + T ) = G n p e G r e G T {\displaystyle n({\vec {r}}+{\vec {T}})=\sum _{\vec {G}}^{}n_{p}e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {r}}}e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {T}}}}

O termo à direita pode ser escrito como e G T = e i ( v 1 b 1 + v 2 b 2 + v 3 b 3 ) ( u 1 a 1 + u 2 a 2 + u 3 ) = e i 2 π ( v 1 u 1 + v 2 u 2 + v 3 u 3 ) {\displaystyle e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {T}}}=e^{i(v_{1}{\vec {b}}_{1}+v_{2}{\vec {b}}_{2}+v_{3}{\vec {b}}_{3})\cdot (u_{1}{\vec {a}}_{1}+u_{2}{\vec {a}}_{2}+u_{3})}=e^{i2\pi (v_{1}u_{1}+v_{2}u_{2}+v_{3}u_{3})}}

e como todos os u i , v i {\displaystyle u_{i},v_{i}} são inteiros e a exponencial de 2 i π {\displaystyle 2i\pi } vezes um número inteiro é um, obtemos o resultado desejado, isto é, a invariância da densidade eletrônica, pois

n ( r + T ) = G n p e G r e G T = G n p e G r 1 = G n p e G r = n ( r ) {\displaystyle n({\vec {r}}+{\vec {T}})=\sum _{\vec {G}}^{}n_{p}e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {r}}}e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {T}}}=\sum _{\vec {G}}^{}n_{p}e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {r}}}1=\sum _{\vec {G}}^{}n_{p}e^{{\vec {G}}\cdot {\vec {r}}}=n({\vec {r}})} .

Amplitude de Espalhamento

Definimos a amplitude de espalhamento como sendo uma função que depende da densidade eletrônica e dos vetores de ondas incidente e refletido k {\displaystyle {\vec {k}}} e k {\displaystyle {\vec {k}}'} , a princípio ondas planas monocromáticas:

F = n ( r ) e i ( k k ) r d V {\displaystyle F=\int _{}^{}\int _{}^{}\int _{}^{}n({\vec {r}})e^{i({\vec {k}}-{\vec {k}}')\cdot {\vec {r}}}dV} .

As integrais são realizadas sobre o volume do cristal inteiro. Embora tenhamos considerado um modelo onde o cristal é perfeito e infinito, uma amostra macroscópica é aproximadamente infinita se comparadas as suas dimensões com as distâncias interatômicas de uma rede cristalina, da ordem de 10 10 {\displaystyle 10^{-10}} metros[6]. O vetor de onda incidente tem a mesma energia que o vetor difratado, conforme a condição de espalhamento elástico considerando a rede cristalina como muito massiva e imóvel. A condição de conservação de energia é


| k | = | k | {\displaystyle |{\vec {k}}|=|{\vec {k}}'|} .

Definimos o vetor de espalhamento como sendo

Δ k = k k {\displaystyle \Delta {\vec {k}}={\vec {k}}'-{\vec {k}}} ,

de maneira que a expressão anterior se torna

F = n ( r ) e i Δ k r d V {\displaystyle F=\int _{}^{}\int _{}^{}\int _{}^{}n({\vec {r}})e^{-i\Delta {\vec {k}}\cdot {\vec {r}}}dV} .

Introduzimos agora a expansão em série de Fourier para n ( r ) {\displaystyle n({\vec {r}})} nessa expressão para obter


F = G n G e i ( G Δ k ) r d V {\displaystyle F=\sum _{G}^{}\int _{}^{}\int _{}^{}\int _{}^{}n_{G}e^{i({\vec {G}}-\Delta {\vec {k}})\cdot {\vec {r}}}dV} .

Quando o vetor de espalhamento é igual a algum vetor da rede recíproca, isto é,

Δ k = G {\displaystyle \Delta {\vec {k}}={\vec {G}}} ,

a exponencial é nula e

F = V n G {\displaystyle F=Vn_{G}} .

Quando o vetor de espalhamento difere significantemente de qualquer vetor da rede recíproca, o grande número de oscilações da exponencial devido à variação de r {\displaystyle {\vec {r}}} dentro da integral faz com que F {\displaystyle F} rapidamente tenda a zero.

Podemos reescrever a relação entre os vetores de onda e os vetores da base recíproca utilizando a definição do vetor de espalhamento

k + G = k {\displaystyle {\vec {k}}+{\vec {G}}={\vec {k}}'} .

Pela conservação da energia, obtivemos que as magnitudes dos vetores k {\displaystyle {\vec {k}}} devem ser iguais. Portanto, tomando o produto escalar dos dois lados:

( k + G ) ( k + G ) = k k = k 2 = k 2 {\displaystyle ({\vec {k}}+{\vec {G}})\cdot ({\vec {k}}+{\vec {G}})={\vec {k}}'\cdot {\vec {k}}'=k'^{2}=k^{2}}

Portanto,

( k + G ) 2 = k 2 {\displaystyle ({\vec {k}}+{\vec {G}})^{2}=k^{2}} .

ou ainda

2 k G + G 2 = 0 {\displaystyle 2{\vec {k}}\cdot {\vec {G}}+G^{2}=0} .

Pelas definições de rede recíproca, é possível mostrar que, se G {\displaystyle {\vec {G}}} é um vetor da rede recíproca, então G {\displaystyle -{\vec {G}}} também é. Isso faz com que seja possível escrever a condição acima como

2 k G = G 2 {\displaystyle 2{\vec {k}}\cdot {\vec {G}}=G^{2}} .

As últimas duas equações são formulações equivalentes da condição de difração de Bragg. O espaçamento d ( h k l ) {\displaystyle d(hkl)} entre planos cristalinos paralelos entre si, normais à direção

G = h b 1 + k b 2 + l b 3 {\displaystyle {\vec {G}}=h{\vec {b}}_{1}+k{\vec {b}}_{2}+l{\vec {b}}_{3}} ,

onde h, k, l são inteiros, é dado por

d ( h k l ) = 2 π | G | {\displaystyle d(hkl)={\frac {2\pi }{|{\vec {G}}|}}} .

Combinando a definição de | k | {\displaystyle |{\vec {k}}|} ,

| k | = 2 π λ {\displaystyle |{\vec {k}}|={\frac {2\pi }{\lambda }}}

onde λ {\displaystyle \lambda } é o comprimento de onda incidente, com a definição de produto escalar e do módulo de G {\displaystyle {\vec {G}}} , temos:

2 ( 2 π λ 2 π d ( h k l ) ) cos ϕ = ( 2 π d ( h k l ) ) 2 {\displaystyle 2\left({\frac {2\pi }{\lambda }}{\frac {2\pi }{d(hkl)}}\right)\cos \phi =\left({\frac {2\pi }{d(hkl)}}\right)^{2}} ,

sendo ϕ {\displaystyle \phi } o ângulo entre os vetores k {\displaystyle {\vec {k}}} e G {\displaystyle -{\vec {G}}} .

Conforme observamos acima, o vetor G {\displaystyle {\vec {G}}} é normal ao plano d ( h k l ) {\displaystyle d(hkl)} . Logo, o vetor G {\displaystyle -{\vec {G}}} também é normal ao plano e o ângulo entre esse vetor e um vetor no plano considerado é π 2 {\displaystyle -{\frac {\pi }{2}}} . O menor ângulo formado entre o vetor de onda incidente k {\displaystyle {\vec {k}}} e o plano é, por análise geométrica, igual a


Modelo de Bragg em duas dimensões, relação entre os ângulos de incidência em relação ao plano cristalino e ao vetor -G, para obtenção da formulação usual da lei de Bragg
Modelo de Bragg em duas dimensões: Relação entre os ângulos de incidência e de espalhamento tomando como referência o plano cristalino e a vetor G {\displaystyle -{\vec {G}}} para obtenção da formulação usual da lei de Bragg. Pela condição de reflexão especular, é possível deduzir que o ângulo entre os vetores de onda incidente e refletido é de 2 θ {\displaystyle 2\theta }


π 2 + ϕ = θ {\displaystyle -{\frac {\pi }{2}}+\phi =-\theta }

ou rearranjando os fatores:

ϕ = π 2 θ {\displaystyle \phi ={\frac {\pi }{2}}-\theta } .

Podemos reescrever a condição de Bragg utilizando o ângulo entre o vetor incidente e o plano, ao invés de considerar o ângulo entre o vetor incidente e o vetor G {\displaystyle -{\vec {G}}} , utilizando a relação

cos ϕ = cos ( π 2 θ ) = sin θ {\displaystyle \cos \phi =\cos {\left({\frac {\pi }{2}}-\theta \right)}=\sin \theta }



Assim, recuperamos o resultado obtido pela análise geométrica simples, escrito à maneira usual da formulação da lei de Bragg:

2 d ( h k l ) sin θ = λ {\displaystyle 2d(hkl)\sin \theta =\lambda \;\!} .

Aqui, θ {\displaystyle \theta } é o ângulo entre o vetor de onda e o plano cristalino descrito pelos inteiros h, k e l. Existe uma diferença entre essa equação e a primeira equação apresentada aqui como condição de difração, a saber, a multiplicação do lado direito da equação por um número inteiro. Isso se dá pelo fato dos índices de Miller poderem conter um fator comum n, que é eliminado no processo de obtenção dos mesmos. Fisicamente, isso significa que a expressão

2 sin θ d ( h k l ) = n λ {\displaystyle 2\sin \theta d(hkl)=n\lambda \;\!}

dá a condição de difração de Bragg para um plano de índices de Miller ( h n k n l n ) {\displaystyle ({\frac {h}{n}}\;{\frac {k}{n}}\;{\frac {l}{n}})} .


Referências

  1. Cowley, John M (1975). Diffraction Physics (em inglês). Amsterdam: North-Holland. 410 páginas. ISBN 0-444-10791-6  A referência emprega parâmetros obsoletos |língua2= (ajuda)
  2. Existem algumas fontes, como a Enciclopédia Acadêmica Americana, que atribuem a descoberta a ambos, pai e filho, mas o site oficial do Prêmio Nobel e as biografias escritas sobre ele ("Light Is a Messenger: The Life and Science of William Lawrence Bragg", Graeme K. Hunter, 2004 e "Great Solid State Physicists of the 20th Century", Julio Antonio Gonzalo, Carmen Aragó López) são contundentes ao explicitar que William Lawrence Bragg derivou sozinho a lei
  3. Kittel, Charles (1996). Introduction to Solid State Physics (em inglês) 7 ed. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 51. ISBN 0-471-11181-3  A referência emprega parâmetros obsoletos |língua2= (ajuda)
  4. Uma dedução do modo como é aqui apresentado é utilizada em Kittel, C. (1996)Introduction to Solid State Physics, 7ª ed., pp.30-37
  5. O fator 2 π {\displaystyle 2\pi } é comum em física do estado sólido pois facilita a análise de Fourier. Em cristalografia, é comum a omissão do mesmo.
  6. Kittel, C. (1996)Introduction to Solid State Physics, 7ª ed., pp.17