Francisco José de Medeiros

Francisco José de Medeiros.

Francisco José de Medeiros (Valpaços, 30 de Abril de 1845 — Sabrosa, 6 de Maio de 1912) foi um magistrado judicial e político que, entre outras funções de relevo, foi deputado, par do reino e Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça.[1][2][3]

Biografia

Francisco José de Medeiros nasceu em Valpaços, filho de Manuel Joaquim de Medeiros e de sua esposa Angélica Teresa Sonim, originário de uma família presente em Valpaços desde pelo menos os finais do século XVIII. Depois de concluído o curso de Direito na Universidade de Coimbra, em 1868, ingressou na magistratura, sendo nomeado delegado do Procurador Régio na ilha Graciosa (Açores) no ano de 1871. Desempenhou também funções de delegado do Procurador Régio nas comarcas de Fafe, Mirandela e Chaves (1876).[1]

Em 1886 foi promovido a juiz de Direito de primeira instância de 2.ª classe, estando em 1889 colocado na comarca de Cantanhede. Após ser promovido a juiz de Direito de 1.ª classe foi sucessivamente colocado nas comarcas de Arouca, Cinfães e em várias varas da comarca do Porto (1895) e de Lisboa.[1]

Foi nomeado juiz do Tribunal da Relação dos Açores em 1901, ascendendo assim à magistratura de segunda instância. Foi transferido para o Tribunal da Relação do Porto em 1904, mas transitou nesse mesmo ano para o Tribunal da Relação de Lisboa.[1]

Foi nomeado vice-presidente do Tribunal da Relação de Lisboa a 13 de Setembro de 1910, sendo elevado a presidente por Decreto de 25 de Outubro de 1910, imediatamente após a implantação da República Portuguesa, tomando posse do lugar a 26 de Outubro do mesmo ano. Terminou a sua carreira como juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, para onde foi nomeado em 1912. Nesse ano, foi escolhido para presidente daquele Tribunal.[3][1]

Paralelamente, manteve intensa actividade política, tendo em 1879 sido eleito deputado às Cortes, nas quais prestou juramento em 14 de Janeiro de 1880. No decurso dessa legislatura coube-lhe defender a proposta da Lei da Responsabilidade Ministerial, apresentada ao parlamento pelo Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça Adriano Machado.[3]

Em 1887 voltou a ser eleito para a Câmara dos Deputados, tendo nessa legislatura assumido o cargo de primeiro secretário da Mesa. A partir desse ano e até ao final da Monarquia Constitucional Portuguesa voltou a ser eleito, por diversas vezes, como deputado pelo círculo eleitoral de Valpaços.[3] Ao todo foi eleito deputado em sete legislaturas, entre 1879 e 1904, revelando-se um parlamentar activo, que integrou doze comissões na Câmara dos Deputados.

Por carta régia de 4 de Abril de 1906 foi nomeado de par do reino, tomando posse na Câmara dos Pares em 12 de Abril desse mesmo ano.[3] Na Câmara Alta manteve-se um parlamentar activo, integrando três comissões.[1]

Em 1909 foi nomeado Ministro dos Assuntos Eclesiásticos e da Justiça do 59.º governo da Monarquia Constitucional, um ministério presidido por Venceslau de Lima, exercendo essas funções entre 14 de maio de 1909, data de nomeação do governo, e 26 de outubro de 1909, data em que se demitiu em colisão com o presidente do ministério. Nesse curto período apresentou ao parlamento um conjunto de propostas de lei de carácter reformista, versando matérias como a responsabilidade ministerial, o processo penal, a organização judiciária, a constituição dos júris em matéria criminal, a liberdade de imprensa e a reorganização das casas de correcção para menores.

A sua linha marcadamente laicizante criou conflitos com a Igreja Católica e com as restantes forças políticas,[1] tendo o seu mandato ministerial cessado prematuramente quando se viu obrigado a demitir-se face à falta de solidariedade do gabinete ministerial num conflito que o opôs a D. Sebastião Leite de Vasconcelos, o bispo de Beja. Nesse conflito, centrado nos poderes disciplinares do prelado sobre os professores do Seminário Diocesano de Beja, o rei e o Presidente do Conselho colocaram se ao lado do bispo.[3]

Aderiu à República após o 5 de Outubro.

Jurista reputado, escreveu alguns opúsculos e deixou colaboração dispersa na imprensa e em periódicos jurídicos.[1]

A toponímia de Valpaços recorda-o numa das suas ruas, a Rua Dr. Francisco José de Medeiros.

Obras publicadas

  • Estudo jurídico acerca do Projecto do Código do Processo Criminal do Sr. Conselheiro José da Cunha Navarro de Paiva, Coimbra, 1877;
  • Sentenças (Direito e Processo Civil), 1904, com segunda edição em 1905.

Referências

  1. a b c d e f g h «45º Francisco José de Madeiros». Tribunal da Relação de Lisboa. Consultado em 21 de julho de 2016 
  2. Leonel Salvado: "Francisco José de Medeiros".
  3. a b c d e f Fonte, Barroso da (2001). «MEDEIROS, Francisco José de». Dicionário dos Mais Ilustres Transmontanos e Alto Durienses. II. Guimarães: Editora Cidade Berço. ISBN 9789729674624. Resumo divulgativo – Do Douro Press 
  • v
  • d
  • e

Luís Mouzinho de Albuquerque António César de Vasconcelos Correia (interino) José António Ferreira Brak-Lamy José Dionísio da Serra José Xavier Mouzinho da Silveira Joaquim António de Magalhães José da Silva Carvalho (interino) Joaquim António de Aguiar António Barreto Ferraz de Vasconcelos • Manuel Duarte Leitão Manuel António de Carvalho João de Sousa Pinto de Magalhães Manuel António Velez Caldeira • Joaquim António de Aguiar (2.ª vez) António Vieira de Castro Francisco de Paula de Oliveira (não empossado) António Vieira de Castro (reconduzido) Passos Manuel (interino) António Dias de Oliveira (interino) José Alexandre de Campos João de Oliveira Manuel Duarte Leitão (2.ª vez; interino) António Fernandes Coelho (interino) João Cardoso da Cunha Araújo • António Bernardo da Costa Cabral Joaquim António de Aguiar (3.ª vez; interino) Joaquim António de Magalhães (2.ª vez; interino) Joaquim Filipe de Soure Junta Provisória de Governo Luís Mouzinho de Albuquerque (2.ª vez; interino) João Baptista Felgueiras António de Azevedo Melo e Carvalho Visconde de Algés Duque da Terceira (interino) Conde de Tomar (interino) José Bernardo da Silva Cabral (inicialmente interino) Conde de Tomar (interino) Duque de Palmela (interino) Joaquim Filipe de Soure (2.ª vez) Joaquim António de Aguiar (4.ª vez) José Jacinto Valente Farinho Manuel Duarte Leitão (3.ª vez) Francisco da Silva Ferrão Bernardo Gorjão Henriques (interino) Joaquim José de Queirós José Joaquim de Azevedo e Moura João Elias da Costa Faria e Silva • José Marcelino de Sá Vargas Félix Pereira de Magalhães • Marino Miguel Franzini (interino) Joaquim Filipe de Soure (3.ª vez) António Bernardo da Fonseca Moniz (não empossado) Rodrigo da Fonseca (interino) António Luís de Seabra Rodrigo da Fonseca (2.ª vez; interino) Frederico Guilherme da Silva Pereira Elias da Cunha Pessoa Vicente Ferrer António José de Ávila (interino) José Silvestre Ribeiro António José de Ávila (2.ª vez; interino) João Martens Ferrão Alberto António de Morais Carvalho • Gaspar Pereira da Silva • Anselmo José Braamcamp (interino) Gaspar Pereira da Silva (continuação) António Aires de Gouveia Júlio Gomes da Silva Sanches (interino) Augusto César Barjona de Freitas Visconde de Seabra (2.ª vez) António Alves Martins (interino) António Pequito Seixas de Andrade António Alves Martins (interino) António Pequito Seixas de Andrade (continuação) João José de Mendonça Cortês • José Luciano de Castro Duque de Saldanha (interino) José Dias Ferreira (interino) Marquês de Ávila (interino) António Alves Martins (interino) Augusto Saraiva de Carvalho José de Melo Gouveia (interino) José Marcelino de Sá Vargas (2.ª vez) Augusto César Barjona de Freitas (2.ª vez) António Cardoso Avelino José de Sande Magalhães Mexia • Augusto César Barjona de Freitas (3.ª vez) Tomás Ribeiro (interino) António Maria do Couto Monteiro • Adriano Machado António José de Barros e Sá Júlio de Vilhena Lopo Vaz de Sampaio e Melo Augusto César Barjona de Freitas (4.ª vez; interino) Manuel de Assunção • Francisco da Veiga Beirão José Luciano de Castro (interino) Francisco da Veiga Beirão (continuação) Lopo Vaz de Sampaio e Melo (2.ª vez) Emílio Brandão • Alberto António de Morais Carvalho (2.ª vez) António Aires de Gouveia (interino) António Teles de Vasconcelos António de Azevedo Castelo Branco Francisco da Veiga Beirão (2.ª vez) José de Alpoim Artur de Campos Henriques Luís Pimentel Pinto (interino) Artur de Campos Henriques (continuação) José de Alpoim (2.ª vez) Artur Montenegro Artur de Campos Henriques (2.ª vez) José de Abreu do Couto de Amorim Novais • António José Teixeira de Abreu Artur de Campos Henriques (3.ª vez) João de Alarcão Conde de Castro e Sola Francisco José de Medeiros • Venceslau de Lima (interino) Artur Montenegro (2.ª vez) Francisco da Veiga Beirão (3.ª vez) Manuel Fratel

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