Função contínua

História

"... f ( x ) {\displaystyle f(x)} será chamado de função contínua, se ... os valores numéricos da diferença f ( x + α ) f ( x ) {\displaystyle f(x+\alpha )-f(x)} diminuem arbitrariamente, conforme α {\displaystyle \alpha } varie ... "[1]

Cauchy (1821) introduziu o conceito de função contínua, onde pequenas variações em x produzem pequenas variações em y = f ( x ) {\displaystyle y=f(x)} . Weierstrass (1874) reformulou a definição de Cauchy, onde a diferença f ( x ) f ( x 0 ) {\displaystyle f(x)-f(x_{0})} será arbitrariamente pequena, se a diferença x x 0 {\displaystyle x-x_{0}} for suficientemente pequena.

Posteriormente, com um tratamento mais rigoroso da matemática e a consequente evolução do pensamento matemático, as funções contínuas foram abstraídas para outros campos além da análise: álgebra linear, álgebra abstrata, física matemática, etc.

Cálculo
Definições

Conceitos

Tabela de derivadas

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  • Quocientes
  • Fórmula de Faà di Bruno
Cálculo integral

Definições

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Cálculo especializado
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  • d
  • e

Definições de continuidade

Em matemática, uma função é contínua quando, intuitivamente, as pequenas variações nos objetos correspondem a pequenas variações nas imagens. Nos pontos onde a função não é contínua, diz-se que a função é descontínua, ou que se trata de um ponto de descontinuidade.

Espaço topológico

Diz-se que uma função f : X Y {\displaystyle f:X\rightarrow Y} entre espaços topológicos é contínua se a imagem recíproca de qualquer aberto de Y {\displaystyle Y} é um aberto de X {\displaystyle X} .

Exemplos

Esta função é descontínua nos inteiros.

Estes exemplos usam propriedades da imagem recíproca, ou seja, dada uma função f : X Y {\displaystyle f:X\rightarrow Y} e um conjunto A Y , {\displaystyle A\subset Y,} o conjunto f 1 ( A ) = { x X | f ( x ) A } . {\displaystyle f^{-1}(A)=\{x\in X|f(x)\in A\}.}

  • Seja X {\displaystyle X} um conjunto com a topologia discreta τ X = P ( X ) , {\displaystyle \tau _{X}=P(X),} Y {\displaystyle Y} com qualquer topologia, então qualquer função f : X Y {\displaystyle f:X\rightarrow Y} é contínua.

Basta ver que, A Y {\displaystyle \forall A\in Y} aberto temos que, f 1 ( A ) P ( X ) , {\displaystyle f^{-1}(A)\in P(X),} e portanto é aberto, o que mostra que f {\displaystyle f} é uma função contínua.

  • Seja Y {\displaystyle Y} um conjunto com a topologia grosseira τ Y = { , Y } , {\displaystyle \tau _{Y}=\{\varnothing ,Y\},} X {\displaystyle X} com qualquer topologia, então qualquer função f : X Y {\displaystyle f:X\rightarrow Y} é contínua.

De fato, pois, como os dois únicos abertos de τ Y {\displaystyle \tau _{Y}} são {\displaystyle \varnothing } e Y , {\displaystyle Y,} basta verificar se suas imagens inversas são abertos. Mas f 1 ( ) = {\displaystyle f^{-1}(\varnothing )=\varnothing } e f 1 ( Y ) = X , {\displaystyle f^{-1}(Y)=X,} e, por definição, {\displaystyle \varnothing } e X {\displaystyle X} são abertos em qualquer topologia em X . {\displaystyle X.}

  • Sejam f : X Y {\displaystyle f:X\rightarrow Y} e g : Y Z {\displaystyle g:Y\rightarrow Z} funções contínuas. Então g f : X Z {\displaystyle g\circ f:X\rightarrow Z} também é uma função contínua.

Fato pois: qualquer que seja A Z {\displaystyle A\subset Z} aberto, pela continuidade de g , {\displaystyle g,} temos que g 1 ( A ) {\displaystyle g^{-1}(A)} é um aberto em Y . {\displaystyle Y.} Portanto, pela continuidade de f , {\displaystyle f,} f 1 ( g 1 ( A ) ) {\displaystyle f^{-1}(g^{-1}(A))} é um aberto em X . {\displaystyle X.} Mas f 1 ( g 1 ( A ) ) = ( g f ) 1 ( A ) , {\displaystyle f^{-1}(g^{-1}(A))=(g\circ f)^{-1}(A),} o que prova a continuidade de g f . {\displaystyle g\circ f.} em espaço métrico.

Diz-se que uma função f {\displaystyle f} é contínua no ponto x = a {\displaystyle x=a} se a {\displaystyle a} é um ponto isolado do domínio ou, caso seja ponto de acumulação de X , {\displaystyle X,} se existir o limite de f ( x ) {\displaystyle f(x)} com x {\displaystyle x} tendendo a a {\displaystyle a} e esse limite for igual a f ( a ) . {\displaystyle f(a).}

OBS.: Não faz sentido calcular limites em pontos que não são de acumulação. Caso insistíssemos teríamos que qualquer valor seria limite de f ( x ) {\displaystyle f(x)} com x {\displaystyle x} tendendo a a {\displaystyle a}

Em análise real, essa definição é escrita na forma tradicional Epsilon-Delta, ou seja, diz-se que uma função f {\displaystyle f} é contínua num ponto a {\displaystyle a} do seu domínio se, dado ϵ > 0 , δ > 0 {\displaystyle \epsilon >0,\exists \delta >0} tal que x X , a δ < x < a + δ {\displaystyle \forall x\in X,a-\delta <x<a+\delta } então f ( a ) ϵ < f ( x ) < f ( a ) + ϵ . {\displaystyle f(a)-\epsilon <f(x)<f(a)+\epsilon .}

Esta definição, com uma pequena adaptação, pode ser usada para uma função de um espaço métrico E {\displaystyle E} em outro espaço métrico F : {\displaystyle F:} a função f {\displaystyle f} é contínua em a E {\displaystyle a\in E} quando dado ϵ > 0 , δ > 0 {\displaystyle \epsilon >0,\exists \delta >0} tal que x E , d E ( x , a ) < δ d F ( f ( x ) , f ( a ) ) < ϵ . {\displaystyle \forall x\in E,d_{E}(x,a)<\delta \rightarrow d_{F}(f(x),f(a))<\epsilon .}

Em termos de bolas, dados dois espaços métricos M , N {\displaystyle M,N} dizemos que a aplicação f : M N {\displaystyle f:M\longrightarrow N} é contínua em a M {\displaystyle a\in M} se, dada uma bola aberta B = B ( f ( a ) , ϵ ) {\displaystyle B'=B(f(a),\epsilon )} de centro f ( a ) {\displaystyle f(a)} e raio ϵ {\displaystyle \epsilon } pode-se encontrar uma bola B = B ( a , δ ) , {\displaystyle B=B(a,\delta ),} de centro a {\displaystyle a} e raio δ {\displaystyle \delta } tal que f ( B ) B . {\displaystyle f(B)\subset B'.} [2]

Diz-se que f é contínua em seu domínio, ou simplesmente contínua, se ela for contínua em todos os pontos desse domínio.

Exemplo

  • Seja f : X Y , {\displaystyle f:X\longrightarrow Y,} X {\displaystyle X} e Y {\displaystyle Y} espaços métricos não vazios. Se x , y X {\displaystyle \forall x,y\in X} tivermos que d ( f ( x ) , f ( y ) ) c d ( x , y ) , {\displaystyle d(f(x),f(y))\leq c\cdot d(x,y),} então a aplicação f {\displaystyle f} é contínua e a constante c {\displaystyle c} é chamada de constante de Lipschitz. Na reta Real toda aplicação Lipschitiziana é uniformemente contínua.

Equivalência das definições

Se E {\displaystyle E} e F {\displaystyle F} são espaços métricos, e τ E  e  τ F {\displaystyle \tau _{E}{\mbox{ e }}\tau _{F}} as topologias geradas pelas métricas em E {\displaystyle E} e F , {\displaystyle F,} então uma função f : E F {\displaystyle f:E\rightarrow F} é contínua pela definição topológica se, e somente se, ela é contínua pela definição métrica.

Em termos de limites

Uma função f ( x ) {\displaystyle f(x)} é dita ser contínua em um ponto a {\displaystyle a} de seu domínio se:

lim x a f ( x ) = f ( a ) {\displaystyle \lim _{x\to a}f(x)=f(a)}
Observa-se que esta definição exige que o limite à esquerda exista assim como o limite da direita e que a função esteja definida no ponto com o mesmo valor de limite para o ponto.

Função sequencialmente contínua

Uma função f : E F , {\displaystyle f:E\rightarrow F,} em que E {\displaystyle E} e F {\displaystyle F} são espaços topológicos, é sequencialmente contínua em um ponto a E {\displaystyle a\in E} quanto ela comuta com o limite de sequências, ou seja, quando para toda sequência x i E {\displaystyle x_{i}\in E} cujo limite (em E {\displaystyle E} ) seja a , {\displaystyle a,} temos que o limite (em F {\displaystyle F} ) de f ( x i ) {\displaystyle f(x_{i})} é f ( a ) . {\displaystyle f(a).} Uma forma elegante de escrever isso é lim i f ( x i ) = f ( lim i x i ) . {\displaystyle \lim _{i\rightarrow \infty }f(x_{i})=f(\lim _{i\rightarrow \infty }x_{i}).}

Propriedades

  • Função Composta: Se f : E F {\displaystyle f:E\to F} e g : F G {\displaystyle g:F\to G} são funções contínuas, então é imediato (pela definição topológica) que a função composta g f : E G {\displaystyle g\circ f:E\to G} é contínua.
  • Se f : X Y {\displaystyle f:X\rightarrow Y} é uma bijeção contínua de um espaço topológico compacto X {\displaystyle X} em um espaço topológico de Hausdorff Y , {\displaystyle Y,} então f {\displaystyle f} é um homeomorfismo.
  • O conjunto dos zeros de uma aplicação contínua entre um espaço topológico X {\displaystyle X} e a reta real R , {\displaystyle \mathbb {R} ,} com a topologia usual, é um conjunto fechado. Em particular, o conjunto das matrizes singulares é fechado em R n × n , {\displaystyle \mathbb {R} ^{n\times n},} pois o determinante define uma aplicação contínua nesse espaço.
  • Sejam X {\displaystyle X} e Y {\displaystyle Y} dois espaços topológicos, U X {\displaystyle U\subset X} e f : X Y {\displaystyle f:X\rightarrow Y} uma aplicação contínua. Então f {\displaystyle f} restrita a U {\displaystyle U} ainda é uma aplicação contínua.

Funções contínuas e suas relações

Álgebra linear[3]

Considere um conjunto X {\displaystyle X\neq \emptyset } e o conjunto definido por todas as funções reais f , g : X R {\displaystyle f,g:X\rightarrow \mathbb {R} } . Temos que, F ( X , R ) {\displaystyle F(X,\mathbb {R} )} assume a estrutura de espaço vetorial a partir das operações de soma e produto por escalar usuais de funções reais, a saber, ( f + g ) ( x ) := f ( x ) + g ( x ) e ( α f ) ( x ) := α . f ( x ) , {\displaystyle (f+g)(x):=f(x)+g(x)\quad e\quad (\alpha f)(x):=\alpha .f(x),} onde ( f , g ) F ( X , R ) × F ( X , R ) {\displaystyle (f,g)\in F(X,\mathbb {R} )\times F(X,\mathbb {R} )} e α R {\displaystyle \alpha \in \mathbb {R} } . Seja X = R {\displaystyle X=\mathbb {R} } e defina então o conjunto C ( R ) F ( R , R ) {\displaystyle C^{\circ }(\mathbb {R} )\subset F(\mathbb {R} ,\mathbb {R} )} das funções contínuas reais. Ora, visto que 0 F ( R , R ) C ( R ) {\displaystyle 0_{F(\mathbb {R} ,\mathbb {R} )}\in C^{\circ }(\mathbb {R} )} , a soma de funções contínuas é função contínua e que o produto por escalar é função contínua, temos que C ( R ) {\displaystyle C^{\circ }(\mathbb {R} )} é subespaço vetorial de F ( R , R ) {\displaystyle F(\mathbb {R} ,\mathbb {R} )} .

Teorema da esfera cabeluda[4]

O conceito de continuidade permite ser também para campos vetoriais,[5] tendo então campos vetoriais contínuos. Com isso, temos uma aplicação belíssima do conceito de continuidade em um teorema chamado de Esfera Cabeluda. Eis sua interpretação, informalmente:

"... muitos dos leitores confrontam-se todas as manhãs com o teorema da bola cabeluda, ao tentarem pentear o seu cabelo e verificando que há um redemoinho persistente no topo das suas cabeças. De um modo simplificado, o teorema afirma que não é possível “pentear-se” uma superfície esférica coberta de “cabelo” sem se formarem “redemoinhos” de algum tipo." [6]

Isto pelo fato da superfície esférica admite um campo vetorial contínuo. Também, o teorema da esfera cabeluda é uma consequência de um teorema de Poincaré sobre superfícies contínuas.

Gravação digital[7]

As funções contínuas são muito úteis em gravações digitais, como por exemplo, em mídias de CD e DVD. Suponhamos que você esteja querendo gravar com seu celular uma aula de uma determinada disciplina. Como isso funciona? O(A) professor(a) emite uma onda sonora que é uma função contínua, porém como funções contínuas exigiriam uma capacidade de memória muito grande do seu celular (pois são infinitas), o que ele faz na verdade é gravar pedaços da onda sonora a cada segundo (isto é, com uma alta frequência), discretizando a função contínua. Com isso, seu celular tem informações suficientes para reproduzir o som como se fosse seu(sua) professor(a).

Administração e economia[8]

A maioria das funções que modelam os fenômenos econômicos são de natureza discreta e possuem descontinuidades finitas, do tipo função escada. As funções preço e custo são discretas, devido à natureza da mercadoria, ou possuem descontinuidade pois o custo e preço decrescem (crescem) instantaneamente. As funções oferta e demanda também são comumente discretas e apresentam descontinuidades.

Referências

  1. CAUCHY (1821). Cours d’Analyse. [S.l.: s.n.] 
  2. LAGES, Elon (1977). Espaços métricos. Rio de Janeiro: IMPA. 32 páginas 
  3. LIMA,, Elon Lages (2016). Álgebra Linear. Rio de Janeiro: IMPA. pp. 3,4 
  4. «Teorema da esfera cabeluda» 
  5. «Campos vetoriais» 
  6. NUNES, João Pimentel. «"O Teorema da Bola Cabeluda"» (PDF). Dep. Matem´atica, IST, Lisboa 
  7. «How Analog and Digital Recording Works» 
  8. WEBER, Jean E. (2001). Matemática para economia e administração. São Paulo: HARBRA. pp. 149–153 

Bibliografia

  • Munkres, J. (1966). Elementary Differential Topology, edição revisada. Col: Annals of Mathematics Studies 54. [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 0-691-09093-9 
  • Lima, Elon Lages (2013). Análise Real - Funções de uma variável. Col: Coleção Matemática Universitária. 1 12ª ed. [S.l.]: IMPA. 198 páginas. ISBN 978-85-244-0048-3 
  • Portal da matemática